Viner renuncia ao cargo de treinadora principal da seleção de ginástica rítmica da Rússia

Entre suas ginastas de destaque, estavam as campeãs olímpicas Alina Kabaeva, Evgenia Kanaeva e Margarita Mamun

A treinadora principal da seleção russa de ginástica rítmica, Irina Viner, anunciou sua renúncia ao cargo, segundo informou a agência TASS.

“A ginástica rítmica é minha vida, e estou feliz por ter conseguido dar minha contribuição ao desenvolvimento deste esporte maravilhoso. No entanto, decidi renunciar ao meu posto como treinadora principal da equipe nacional russa de ginástica rítmica”, disse Viner à imprensa.

Ela afirmou ainda que desejar passar “a experiência acumulada para treinadores que irão preparar futuras gerações de estrelas”.

Trajetória marcada por sucesso e polêmicas

Irina Viner tem 76 anos e lidera a seleção nacional desde 2001. Entre seus alunos, destacam-se as campeãs olímpicas individuais Alina Kabaeva, Evgenia Kanaeva e Margarita Mamun, e as medalhistas de prata dos Jogos Olimpícos Irina Tchachina, Dina Averina, Daria Dmitrieva e Yana Kudryavtseva. Na competição de conjuntos, a equipe russa, liderada por Viner, venceu quatro Jogos Olímpicos consecutivos – de 2004 a 2016.

Em Tóquio 2020, o mundo de Viner começou a ser abalado. Ela perdeu a invencibilidade tanto no individual – com Dina Averina perdendo o ouro para Linoy Ashram – quanto no conjunto que viu a Bulgária sagrar-se campeã olímpica.

Em 2023, a Gymnastics Ethics Foundation (GEF), órgão que investiga violações nas regras e estatutos da FIG, suspendeu Viner por dois anos de qualquer competição internacional sancionada pela entidade ou organizada por uma federação afiliada. A medida se deveu, entre outros motivos, às declarações públicas feitas na mídia após a derrota da equipe russa de ginástica rítmica nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, que foram consideradas abusivas e em violação das regras da FIG.

Seu estilo como treinadora pode ser considerado como abusivo. No documentário Over the Limit, que retrata a preparação de Margarita Mamun para as Olimpíadas do Rio, é possível observar Viner testando os limites físicos e psicológicos da ginasta, que era alvo de constantes xingamentos.

Perda de poder

Em janeiro deste ano, a BBC russa já havia revelado que Irina Viner estava perdendo poder em todas as frentes. Desde 2008, Viner era presidente da Federação Russa de Ginástica Rítmica (FRGR), mas, em setembro de 2024, ela foi afastada quando as autoridades esportivas daquele país decidiram que as federações de vários esportes — ginástica artística, rítmica, trampolim, acrobática e aeróbica — se uniriam em uma única estrutura, tal como acontece em diversos países, inclusive no Brasil.

A perda da Federação não foi a única mudança. Em outubro de 2024, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, emitiu um decreto excluindo Viner do Conselho para o Desenvolvimento da Cultura Física e Esportes, composto por autoridades regionais, chefes de federações esportivas e líderes de grandes ligas esportivas. Contra Viner também pesou o fato de a treinadora ser contrária à participação de atletas russos em competições internacionais com o status de atleta neutro, algo que já é defendido pelo próprio Putin.

Outro fato polêmico ocorreu, no ano passado, nos Jogos dos BRICS, competição multiesportiva organizada pelos países-membros do bloco. Chamou a atenção da imprensa o fato de que a lista de participantes incluía ginastas de diversos países e atletas do clube russo “Sky Grace”, fundado por uma das pupilas de Viner, a campeã olímpica Alina Kabaeva. A situação é incomum visto que, em competições deste tipo, os atletas defendem seus países e não seus clubes.

Na GR, o grande duelo pela medalha de ouro ocorreu entre Lala Kramarenko, treinada por Viner e que competia pela Rússia, e Maria Borisova, que tinha acabado de deixar a seleção russa para integrar a escola de Kabaeva. Kramarenko foi a grande campeã, mas a competição terminou com o envio de uma carta por parte da árbitra que presidiu a competição, Aysel Gasanova, do Azerbaijão, ao Ministério dos Esportes da Rússia. No documento, ela chamou de “alarmante” o comportamento dos árbitros enviados por Viner à competição. Segundo Gasanova, eles inflaram as pontuações dos atletas que representaram a equipe russa e, inversamente, subestimaram as pontuações de ginastas de outras equipes, incluindo atletas da “Sky Grace”.

Antes de fundar o seu clube, Kabaeva não tinha participação importante no treinamento de novas gerações de ginastas. No último ano, ela mostrou ter outras ambições e a Sky Grace recebeu um status que qualquer agremiação esportiva do país invejaria. A escola está autorizada a aprovar de forma independente seu próprio calendário de competições, realizar torneios de acordo com suas próprias regras e, a seu critério, premiar alunos e treinadores com títulos esportivos. Nenhuma outra escola de esportes no país tem tais poderes. Além disso, os regulamentos incluíram a exigência de coordenar quaisquer mudanças nas regras da ginástica rítmica na Rússia com a academia de Kabaeva.

Não se pode afirmar qual será o futuro da ginástica rítmica da Rússia, mas uma coisa é certa: trata-se do fim de uma era.

Fonte: TASS | BBC

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